A Invenção do Avião: Santos-Dumont ou Irmãos Wright?

A Invenção do Avião: Santos-Dumont ou Irmãos Wright?

Caro leitor, durante minha experiência em sala de aula, notadamente nas disciplinas que abordavam a invenção do avião, sempre fui questionado sobre a polêmica da real paternidade do invento. Em minhas respostas, sempre acrescento que o avião é o resultado de uma busca coletiva, em que vários inventores, todos geniais, reforço, buscavam as soluções para alçar voo com o mais-pesado-que-o-ar. Defendo, entretanto, que Alberto Santos-Dumont foi quem primeiro resolveu as questões fundamentais sobre o voo, do aparelho que viria a ser consagrado como avião, porém, sem em nada minimizar a atuação, dos também geniais, Irmãos Wright, que quase, repito, quase conseguiram.

O fim do século XIX e o início do Século XX, caracterizaram a Europa como um momento de profundas transformações sociais e culturais. Dois países exerciam um certo domínio sobre a sociedade da época: a Inglaterra, onde ocorria a gradativa substituição de motores a vapor, por motores elétricos e motores à explosão ou à petróleo, consolidando a segunda revolução industrial; e a França, que desfrutava da Belle Époque, tendo Paris como a moderna capital da cultura mundial.
A sociedade da época estava em busca do moderno, das grandes invenções, buscava-se a velocidade e máquinas que substituíssem o ser humano em suas tarefas. Surgem, neste período o telefone, o telégrafo sem fio, o cinema, o automóvel e o avião.

Os reflexos deste momento fascinante ficaram impressos na produção artística realizada a época. A moderna música de Deboussi com estruturas harmônicas complexas; as esculturas Rodin, focadas no sentimento e não na forma; e a surpreendente pintura de Renoir e Claude Monet; dentre outras expressões artísticas traduzem claramente o sentimento de transformação da Belle Époque.
Os inventores, assim como os artistas, estavam em plena atividade produtiva. Destacam-se entre os pioneiros: Gabriel Voisin, Louis Blériot, Wibur e Orville Wright (nos EUA), Trajam Vuia e Henry Farman e obviamente, o jovem brasileiro residente em Paris, Alberto Santos Dumont.

Diferentemente dos balões, que se sustentam na atmosfera, através do empuxo gerado pela menor densidade do gás em seu interior, os aviões precisavam de um meio mecânico de propulsão para fornecer a sustentação necessária para que se elevem na atmosfera.
Santos Dumont havia levado a dirigibilidade nos aeróstatos aos limites máximos possíveis para a época e conhecia profundamente motores e máquinas, havendo inclusive projetado alguns modelos. A transição para os experimentos com o mais-pesado-que-o-ar, seguindo a tendência dos inventores contemporâneos, foi algo natural.

Alberto dedicava-se agora às pesquisas sobre o voo do mais-pesado-que-o-ar. Em 1906, apresentou um estranho aparelho com dois planos de asa, fuselagem tipo Canard (pato em francês), com 12 metros de envergadura e 10 metros de comprimento, motor a gasolina de 8 cilindros localizado na junção das asas. O conjunto, aeronave e aviador pesava cerca de 210 quilos.

Utilizando o dirigível N°14, amarrado ao avião, servindo-lhe como apoio e sustentação, Santos Dumont apresenta ao mundo o 14-BIS. Bis, em função do inventor considera-lo como anexo ao balão. Após alguns testes inicias, o balão foi abandonado e a população de Paris passou a observar os testes abertos de Alberto e seu aparelho no campo de Bagatelle, com centro da capital francesa.
Após algumas tentativas, no dia 23 de outubro de 1906, perante a imprensa parisiense, a comissão julgadora do Aeroclube de France e a população local, o brasileiro Alberto Santos Dumont acelerou seu aparelho que roncou, tremeu e alçou um gracioso voo de 60m, variando entre 2 ou 3 metros de altura, utilizando apenas seus recursos próprios. O ser humano finalmente havia conseguido realizar o sonho de Ícaro.

Após outros voos exitosos, um acidente destrói o 14 Bis e Santos Dumont continua no aprimoramento de suas invenções, até chegar ao Demoiselle, considerado o primeiro ultraleve do mundo. O Demoiselle, senhorita em francês, fora assim batizado por sua graça e leveza, e também foi chamado de Libélula. Desenvolvido entre 1907 e 1909, foi fabricado por várias oficinas, depois que Dumont liberou sua patente, e estima-se que mais de 40 unidades forma produzidas. Sua planta é a base de construção para aviões de pequeno porte até os dias atuais.

Do outro lado do Atlântico, o acidente que vitimou na Europa Otto Lilienthal, em 1886, despertou nos irmãos americanos, Wilbur Wright e Orville Wright, uma motivação para abandonar os voos planados e tentarem o desenvolvimento de máquinas motorizadas mais pesadas que o ar. Os irmãos, há muito, estudavam os assuntos relacionados com aviação e em 1899, começaram a carreira de invenções construindo planadores. À época ambos gerenciavam uma fábrica de bicicletas em Dayton, Ohio, Estados Unidos.

Em pouco tempo, já realizavam seus primeiros voos bem-sucedidos em planadores, em Kitty Hawk, Carolina do Norte. A região foi escolhida para testes em função da constância e força dos ventos que facilitava o planeio, além de possuir um solo macio e arenoso, suavizando os pousos. Os irmãos Wright conseguiram realizar inúmeros voos planados com sucesso e suas contribuições ajudaram no desenvolvimento dos verdadeiros e modernos planadores.

Após a divulgação da realização de Santos Dumont, o primeiro voo do mais-pesado-que-o-ar, os Wright questionaram o fato e requisitaram para si a primazia do voo, alegando que já realizavam voos em uma máquina motorizada desde 1903. O que em parte era verdade.
Os Wright realizaram seu primeiro voo motorizado na mesma Kitty Hawk, em 17 de dezembro de 1903. O problema é que este não foi um voo autônomo. O aparelho, denominado Flyer, um biplano muito semelhante aos planadores utilizados pelos irmãos, equipado com um motor de 12 cv, que para decolar necessitava ser catapultado ou dependia de um vento intenso, para alçar voo. E é justamente este fato que não o classifica como primeiro avião, pondo fim a polêmica e confirmando a paternidade de Santos-Dumont.

Os Wright, realmente, quase conseguiram, mas a primazia cabe ao gênio brasileiro. Vejo você nas aerovias. Forte abraço.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *